[Texto Atualizado em 30 de novembro de 2010]

Memórias da Escola/Vida – Breves Notas sobre Minha Trajetória

 

                                                                           Prof. Celso dos S. Vasconcellos

                                                                                       

                                                    Grande parte da pessoa é o professor, e grande parte

                                                    do professor é a pessoa.    Antonio Nóvoa

 

Jardim de Infância e Primário

Entrei na escola (Grupo Escolar Dr. Fernando Costa, em Barra Bonita/SP - Jardim de Infância), em 1962, com 6 anos, saí –por motivo de mudança para Jaú/SP– com 6 anos e meio. Entrei na 1ª série com 7 anos (Grupo Escolar Dr. Pádua Salles), saí no mesmo dia (fugi e voltei para casa). Voltei no dia seguinte e, de certa forma, nunca mais saí da escola.

Só para se ter uma ideia da situação do professor nesta época, no quarteirão em que morava (rua Governador Armando Salles, perto do campo do XV de Jaú), apenas duas casas tinham televisão: a do professor Elisiário e a do professor Germano. É certo que, para nós crianças, não fazia falta, pois, enquanto os pais ficavam conversando nas cadeiras colocadas nas calçadas, brincávamos na rua e por toda a parte. Quando meu pai foi buscar avião nos EUA, trouxe uma TV. No início, assistíamos com a janela da sala aberta e os vizinhos punham cadeira para assistir do lado de fora1. Não muito tempo depois, o Sr. Zé, soldado, também comprou uma. Então, as pessoas se dividiam entre a casa dele e a nossa. Mais algum tempo, muitos já tinham o tal aparelho, e as brincadeiras das crianças e as conversas dos adultos na rua forma minguando.

Uma das poucas lembranças que tenho do golpe de 64 é de ver os soldados passando em frente de minha casa, subindo marchando para o campo do XV de Jaú (transformado em prisão). Depois, lembro-me da aliança de metal com a inscrição “Dei ouro para o bem do Brasil” (para onde será que foi aquele ouro???).

Ainda em 1964, mudei-me para uma casa próxima do colégio dos padres (onde fiz os estudos para a 1ª comunhão) e do das freiras.

Estudei no Pádua Salles até a 4ª série. Um pouco antes do final do ano, mudei-me para Barra Bonita. Ia todo dia de ônibus, logo cedo, para Jaú com minha irmã.

 

Ginásio

A passagem para o ginasial não era direta. Tinha o Exame de Admissão. Fiz, na Barra, algumas aulas particulares preparatórias. Lembro-me do meu sufoco na Matemática, pois a abordagem era pela Matemática Moderna, diferente da que tinha visto no primário. Quem me ajudou no exame foi meu amigo Mané (Manoel Zinzile Lopes, já falecido), que passou cola. Passei raspando, embora, no verso do diploma do primário esteja registrado um “9,6”, que suponho tenha sido minha média. (praticamente só voltei a colar no 3º ano da Engenharia, num curso de Semicondutores, com um professor muito ruim).

Fiz a 1ª série do ginásio na Escola Normal e Ginásio Estadual de Barra Bonita. Ali, conhecíamos os professores pelo nome (Prof. Antônio/Toninho, Matemática; Profa. Cândida/Candi, História; Prof. Celso Barbosa, Francês; Prof. Roque, Artes Industriais, Prof. Lorivaldo/Lori, Ciências, etc.). Eram pessoas referências na comunidade.

No final de 67, meu pai, foi trabalhar em São Paulo, como diretor técnico da T.A.M. – que naquela altura era uma pequena empresa de táxi aéreo, que tinha sido comprada do pessoal de Marília pelo Sr. Orlando Ometto, da Usina da Barra (pronunciávamos T, A, M e não TAM como hoje). Em janeiro de 68 mudamos para São Paulo, no bairro da Pompeia. Fiz a 2ª série ginasial no Ginásio Estadual Professor José Cândido de Souza2 .

Com a mudança no ano seguinte para o bairro Jardim Aeroporto, e não conseguindo vaga em escola pública (lembrar: nesta época, escola particular era “ppp”- papai pagou, passou – escola boa era a escola pública), fui estudar no Instituto de Ensino Tabajara, em Moema.

Em 1970, conclui o ginásio no Colégio e Escola Normal Rui Bloem3. Um episódio que marcou foi na aula de Desenho, com o Prof. Mário: fizemos um mosaico e, na hora de pintar, perguntamos se poderíamos pintar de qualquer cor; a resposta dele foi bem direta: “Sim, desde que seja amarelo”...

 

Escola Técnica

Na adolescência, sequer cogitei a possibilidade de fazer o magistério, embora minha irmã fizesse, e tivesse tios e tias que eram professores, além de meu avô (Philippe Westin Cabral de Vasconcellos) que, além de professor e pesquisador, foi diretor da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba/SP). Queria ser cientista, muito provavelmente influenciado pela constante curiosidade e amor pela ciência por parte de meu pai e pela figura de pesquisador de meu avô. Fui fazer escola técnica de eletrônica (Escola Técnica Industrial Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo/SP).

Para isto, precisei fazer cursinho preparatório mais uma vez, pois as vagas eram disputadas. Fiz em Santo André. No começo, ia de trem para lá; depois, arranjei uma república em São Bernardo. Uma vez aprovado no exame, e careca pela primeira vez em função do trote, fui morar definitivamente em república em São Bernardo (Rua Marechal Deodoro).

O período da ETILG foi riquíssimo, já que, entre outras coisas, era uma escola de período integral.4

É interessante observar que o trabalho de conclusão de curso que o grupo de alunos a que eu pertencia escolheu foi o CEVA-Central Eletrônica de Verificação de Aprendizagem, sob a orientação do Prof. Mário Pagliaricci. A ideia era ter em cada carteira alguns botões correspondentes às letras a, b, c, d e e, que o aluno apertaria quando uma questão fosse projetada pelo professor no retroprojetor, o que disparava um pequeno circuito que fazia uma marca termoelétrica num papel sensível, de tal forma que rapidamente o professor poderia ter uma noção do grau de entendimento da turma no assunto trabalhado. Nem de longe poderia imaginar o quanto me dedicaria, anos depois, aos estudos da avaliação.

              Na verdade, a docência foi uma descoberta paulatina. Quando ia realizar o estágio do curso técnico, fui convidado —junto com outros cinco amigos— para dar aula na mesma escola (nós éramos da 1ª turma de eletrônica e eletrotécnica que a ETI formava). Até então, tinha apenas a experiência da comunidade de jovens, onde participava e desenvolvia, junto com outros amigos, o curso de Dinâmica de Grupo. Passei por um treinamento didático de seis meses, dado pelo Prof. Élzio D´Arienzo (diretor da ETI), marcado pelo tecnicismo da época (1974), onde tudo era bem organizado: objetivos (os verbos da taxonomia de Bloom), recursos técnicos, etc.

O trabalho pedagógico neste momento parecia, então, se reduzir a dois pontos básicos: o reconhecimento da função por uma determinada instituição e o domínio de um determinado conteúdo (além de uma certa dose de coragem para enfrentar uma classe). Lembro-me que para a minha primeira aula na escola técnica, preparei-me tanto, que sabia praticamente tudo que havia na literatura sobre "Ponte de Wheatstone", qual seja, minha segurança estava depositada no domínio do conteúdo a ser trabalhado. Isto não deixava de me questionar, uma vez que muito valorizava a função docente: bastaria o domínio do conteúdo? Como se poderia ser professor com tão pouca formação?

Meu horizonte pedagógico naquele momento era bastante restrito, e uma articulação maior com o contexto social e político não se fazia. Neste ambiente “apolítico”, rico em recursos técnicos e com grande disponibilidade de tempo para pesquisa, pois tínhamos dedicação em período integral, foi se formando uma paixão pela educação que não me deixou mais.

No mesmo período, trabalhando em outra escola noturna, com uma realidade totalmente diferente, fui despertado por uma outra face da educação que eram os alunos carentes, trabalhadores. Encontrei ali também os professores dadores de aula, sem compromisso com os alunos e com a educação.

Na ETI, eu ganhava —um salário muito bom, diga-se passagem— por 40 horas, mas dava apenas 17 aulas por semana, tendo tempo para pesquisar, preparar as aulas, atender alunos, preparar material didático, elaborar apostilas, etc. Efetivamente, as condições de trabalho eram excelentes.

A experiência de escrever as apostilas para as aulas que ia dar foi muito importante na minha formação. Só mais tarde é que percebi o real valor daquela prática: sob a orientação do coordenador geral do curso, Prof. Mário Pagliaricci, escrevíamos os textos para nossas aulas e íamos discutir com ele, que fazia as observações e voltávamos para reformular, até que ficasse bom. Com isto, nos incentivava a exercer a autoria.

 

 

 

 

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1.Uma das primeiras propagandas de que me lembro, era de dois porquinhos conversando assim: “O que você vai ser grande crescer?” O outro, pulando corda, respondia: “Salsicha do Frigor Eder”. Quando anunciaram um programa chamado Bonanza, achei que era de avião, pois Bonanza era a marca do avião que meu pai pilotava (Beechcraft Twin Bonanza). Na verdade, o programa era um seriado de faroeste.

 

3.Tenho ótimas lembranças de lá, sobretudo do amigo (e vizinho) Lia (Antônio Elias Jr.), que junto com Murilo e Dráuzio (que estudavam no Colégio Estadual Alberto Levy), montamos uma “firma” (Camundongo’s Blue Five-Cinco II - na época havia um seriado, Hawaii Five-0, que serviu de inspiração para o nome) de iluminação para bailinhos. Nosso equipamento não passava de uma luz negra, de um globo de cristal, um tubo de luz e um gravador de rolo, do Murilo, de marca Geloso, que foi motivo de muita gozação. Na verdade, a motivação mesma não era ganhar dinheiro, mas participar dos bailinhos...

2.Na imagem da carteirinha de estudante desta escola, dá para ver que o ano de nascimento está rasurado –1954–; era o desejo de entrar em filmes “proibidos”.

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4.Havia um bom quadro de professores -porém nada acima do normal- que se encontravam na escola durante todo o período letivo. As aulas eram ministradas pela manhã e/ou pela tarde, e durante todo o dia os professores estavam à disposição da escola, quer para preparação das aulas, quer para pesquisa ou ainda para atendimento dos alunos. Paralelamente a esse fato, os alunos tinham um bom nível, dado pelo vestibular rigoroso (fato perfeitamente questionável dada a restrição de acesso a um campo mais amplo da sociedade). Havia uma convivência intensa pela extensão do período das aulas (o almoço era no refeitório comum); e outras não tão intensas, nas casas ou repúblicas dos alunos para a confecção e desenvolvimento de trabalhos e projetos. Além disso, havia toda uma retaguarda em termos de infraestrutura: salas de aula apropriadas (tipo anfiteatro, com ar condicionado, quadro móvel, mesa com recursos audiovisuais), laboratórios muito bem equipados (material conseguido em convênio com a Alemanha Federal), conjunto esportivo, refeitório, enfermaria, setor de ajuda ao aluno, APM, biblioteca, oficinas especializadas, convênios para estágios, etc. Vale destacar o incentivo que era dado às chamadas “atividades extraclasse”,  que compreendiam coisas do tipo: grupo de pesquisa (GEPETI), clube de radio amador  (CRAETI), equipe de competição de karts, equipe de fórmula Ford, estação meteorológica, grupo de música, de poesia, e até uma comunidade de jovens cristãos (NaCl). O incentivo se concretizava no empréstimo de salas para as atividades, verbas para desenvolvimentos de ideias ou projetos, oferecimento de todo aparato, tanto técnico como humano, aos serviços que fossem necessários.

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